sexta-feira, 4 de julho de 2014

Amantes, conhecidos e desconhecidos.

Ela virou de costas e estava indo embora.
Ele pediu perdão.

Ela fechou os olhos, quase caindo uma lágrima pesada e virou-se para ele.
A lágrima caiu, insistente ela, era pesada.
Carregava o peso dele sendo frio com ela ao telefone, dele fazendo de conta que ela não existia, carregava o peso de cada frase forte que ele havia insistido em dizer a ela. Carregava o peso daquelas duas garotas que lhe insultavam constantemente e fizeram uma jogada suja e desleal para afastá-los. Carregava o peso de mesmo depois dele descobrindo toda a mentira ainda assim foi incapaz de lhe estender a mão. A culpa nunca havia sido dela. A culpa dela foi apenas perder a cabeça e entrar em desespero. Quem conheceu toda situação poderia até lhe compreender. Mas ele? Ele sequer tentou escutar. Fugiu, foi grosso, fingiu que não a via, a magoava na primeira oportunidade que tinha.

Pobre garota doce. Ela o amava. E ele não se contentou em apenas deixar ela com a dor de quem ama e não é correspondido. Ele pisou, desprezou, foi grosso, hipócrita. E ela ainda assim o amava. O procurou mais uma vez, depois de tantas. Acima de qualquer coisa ela queria apenas compreender o porque dele não ter cumprido sua palavra de amigo. Quando estavam juntos ela sabia que tinha algo lá em seu coração. Como sumir tão rápido? Ele era acelerado. Corações não aceleram em vão.

A lágrima pesada caiu. Caiu porque ela esperou aquela frase cada instante após tudo que eles viveram juntos. Precisava dela, assim como se precisa de ar. Mas ela jamais seria a mesma depois da última frase que ele soltou.

-A última vez que conversamos você disse: "não importa, não importa o que fizeram, se nos enganaram, não quero mais conversa com você.". Disse mais: "se você tiver um pingo de vergonha na sua cara você irá desligar esse telefone em menos de um minuto.". Você me deixou sem saída. Eu te amava. Fiz de tudo para que fosse diferente. Eu já havia perdido quase toda a minha vergonha na cara tentando fazer a gente ficar bem, tentando fazer você me olhar. Naquele instante em que disse essa frase foi como se você tivesse matado toda minha esperança. Matou todas as minhas chances. Porque só restava um pingo de dignidade dentro de mim e eu não poderia perder mais. Naquele dia desliguei aquele telefonema em menos de um minuto. E a única coisa que me restou foi aquele pingo de vergonha na cara. Eu te amo! Eu te amo muito garoto, mas você me ensinou a viver sem você. Você me mostrou que era possível. Não é mais questão de sentimento. De perdoar ou não perdoar. É questão de dignidade. Se eu deixar tudo para trás e voltar para você como se nada tivesse acontecido é como se eu estivesse jogando fora aquele pingo de vergonha na cara que você mesmo me desafiou. Esse pingo me segurou. Esse pingo me deu uma razão para levantar no outro dia. Para aguentar passar por você enquanto levantava o rosto com altivez e fazia de conta que eu não existia. Esse pingo se agigantou e me fez acreditar na vida e no amor mais uma vez. Não é questão de querer. É questão de poder. E quero te perdoar, mas eu não posso. E não poderei até que você mesmo perca o último pingo de vergonha na cara que existe em você por mim. Arrisca? Vai depender apenas de você.

Depois disso? Virariam amantes? Dois conhecidos? Ou desconhecidos para sempre?

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