quarta-feira, 19 de junho de 2013

Em 1992, lembro-me claramente do povo vestindo e pintando o rosto de preto pra manifestar-se contra o governo. Eu tinha 11 anos de idade, mas 11 anos naquela época ainda era ser totalmente criança. Eu ainda brincava de bonecas, mas lembro de me vestir de preto em casa e querer pintar o rosto também, sabendo o motivo, apesar de não entender direito a força de tudo aquilo. Acho que isso foi essencial para todas as minhas decisões políticas até hoje e por querer sempre me informar do que realmente acontece nesse meio. Aprendi com meu pai a importância da participação na política como cidadão, através de seus ideais.

Está sendo ruim ser país sede de uma Copa Mundial? Pra ser sincera, neste exato momento, acho que não. Vejo as pessoas na rua, vejo a luta de quem quer um país melhor e vejo o brasileiro enfim, querendo honrar o seu hino - “verás que um filho teu não foge à luta” - me dá uma sensação de que as coisas afinal, podem melhorar. Eu que sempre fui contra uma copa no país, quando sabia que essa ideia não iria dar certo, pelo fato de ter a certeza que deixariam as necessidades básicas do povo ainda mais sucateadas do que já estavam, sabia que a roubalheira iria ser maior do que já era, principalmente com obras de infraestruturas, obras que todos sabíamos que teriam de ser feitas... Hoje vejo a grande importância de tudo isso para que o brasileiro enfim se cansasse de ser “feito de trouxa”.

Na época do Collor me lembro de ter ouvido alguém dizer que ninguém gosta de ser feito de trouxa..., feitos de trouxas sempre fomos, mas o Collor extrapolou os limites e por isso o povo foi à rua. E vencemos, mas continuamos sendo tratados como trouxas, aí, o povo mudou seu governo. Lembro-me mais uma vez, da euforia e esperança no dia em que o Lula ganhou as eleições para presidente. Assisti a apuração e como a um jogo de futebol, vibrei tanto quanto o gol da vitória final. Muita coisa melhorou isso é fato inegável, mas não paramos de sermos feitos de trouxas... O povo que antes andava calado, encolhido e aceitando, exceto por pequenos manifestos pessoais insatisfeitos com uma coisa ou outra, precisou de uma Copa do Mundo e um abusivo aumento de 0,20 centavos no transporte (e sim o aumento seria abusivo mesmo que fossem 0,1 centavos) pra enxergar novamente o tanto que o Governo extrapola os limites... E Acordou!

A mídia achava que poderia abafar e tentou ‘pintar’ todos os manifestantes de vândalos o que aumentou ainda mais a indignação do povo. A mídia aos poucos foi unindo-se ao povo, afinal este é o papel dela e mesmo que ela tente fugir disso, depois que o povo ganha a rua de verdade e hoje também com a internet é mais difícil distorcer os fatos.

A polícia tentou conter com violência, mas cada vez mais as pessoas estão indo para a rua, indignando-se da repressão e sabendo do fantasma que assombrou o país por 20 anos (de 1964 a 1984). O povo tem na memória o fantasma da ditadura, ditadura esta que por ironia, construiu estádios de futebol para distrair o povo brasileiro. Eu nasci na ditadura. Não quero e aposto que ninguém mais quer a sua volta. De maneira alguma e muito menos disfarçada de democracia. Não à repressão.

E viva o país do futebol... Pois até para acordar e lutar por nossos direitos o futebol teve de se fazer presente de alguma forma. O País da Copa, pretexto usado pelos governantes, que mais uma vez tentaram usar a euforia do futebol para distrair o povo, foi justamente esse, o maior motivo de sua gritaria. É, de vez em quando um tiro sai pela culatra.

* E que no futuro não seja mais preciso extrapolar limites para que o povo possa abrir os olhos. E não culpem apenas um membro do governo... pois o governo não é feito só de um e sim de vários...e todos são culpados.

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