terça-feira, 29 de outubro de 2013

Naquela noite, deitada em sua cama, a mulher imaginava tudo que tinha acontecido na sua vida até aquele exato momento. Como chegou até ali? O que havia feito de errado? Por que seus sonhos não haviam realizado? Pensava em todos os "quases" que faziam parte das histórias dela. Indagava a vida, silenciosa e olhando pro nada, com uma certa pontinha de amargura e com uma esperança que alguém escutasse suas perguntas e se comovesse em respondê-las.
A irmã mais nova tentava dormir na cama ao lado. Era sua cúmplice. Sabia como a mulher se sentia, o que estava pensando e em quem estava pensando. A irmã mais nova de tudo sabia, mas em silêncio a deixou com ela mesma. Naquela noite era melhor assim.
A mulher lembrou-se de quando tinha 15 anos. Nossa! Pensou que se aquela garotinha de 15 anos pudesse viajar para o futuro ela não sentiria orgulho algum da mulher. Muito pelo contrário.
Levantou-se e foi ao banheiro, ao lavar o rosto permaneceu um tempo se olhando no espelho e percebeu a presença da menina. Estavam juntas. Eram uma só. Percebeu que a menina nunca havia deixado de acompanhá-la. Ela a olhava pelo espelho com um semblante triste. Não a julgava. A menina entendia perfeitamente a mulher, tinha compaixão de sua dor, a sentia junto com ela. Seu maior pesadelo era aquele, o absoluto contrário de seus maiores sonhos. Uma mulher aos 32 anos, morando com os pais, solteira, sem filhos e sozinha. 
Voltou para a cama com a menina na cabeça. Ela parecia não ter mais nada dela, mas tinha, tinha ainda todos os sonhos. Os sonhos permaneciam intactos. Talvez isso a salve algum dia. Comparou-se com a menina. Assustou-se, na época se sentia tão frágil e agora acha que ela era muito mais forte que hoje.
Na cama ela sentia falta dos adesivos de estrelas brilhantes colados no teto de seu quarto que a menina colocou. Foi esse seu ponto fixo que lhe dava segurança até por volta de seus 25 anos. Quando colocou tinha poucos adesivos, resolveu colocá-los juntinhos. A noite parecia um buraco no teto do quarto, assim tinha um céu particular. Nas noites de solidão e angústias ou nas noites de felicidade plena ela ficava ali admirando seu céu até adormecer. Só de pensar em perder seu céu particular, recusava-se veemente pintar novamente o teto do quarto. Um dia não teve mais jeito. O céu se foi. A cama parecia ainda mais vazia.
Naquela noite, mais que tudo que ela sonhava, ela só queria aquele céu de volta por alguns instantes, precisava dele.
Pensou no carinha dos olhos apertados, sorriso um pouco desconfiado, abraço acolhedor e beijo perfeito. Sentia saudade dele, mas tinham distâncias maiores que os 2000 quilômetros que os separavam fisicamente e suas diferenças eram gritantes. Ele era muito mais novo e um completo imaturo. Ela, apesar de seus fracassos, já era uma mulher madura e não tinha mais paciência para infantilidades e joguinhos. Deu um suspiro e virou a cabeça para um lado e outro.
Olhou novamente para o vazio no teto em seu quarto. E acordando a irmã já sonolenta ao seu lado, compartilhou o que sentiu de relance naquele instante. Ele seria apenas um elo. A irmã sorriu e voltou a dormir. A mulher enfim conseguiu diminuir aquele seu momento de angústia e foi dormir um pouco mais confiante.

Sabe-se lá do futuro. Talvez tudo tenha sido necessário.

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