domingo, 3 de novembro de 2013

Cenas

Dos amores passados e das cenas que até hoje marcam na memória:
  • De um lembro dele de pé, em frente ao orelhão segurando o telefone na mão, com aquela cara de quem não acreditava no que falei, mas sorrindo, feliz por ter escutado tais palavras. Enquanto eu? Falei e saí andando para não ter que lidar a situação e nem prolongar o assunto. Fugi e enquanto fugia, cruzando o terraço da piscina do colégio rumo a saída, me perguntava como tive coragem de dizer tais palavras. Eu olhava para trás de vez em quando e sorria para ele, nossos olhares cruzavam, já se queriam e nossos sorrisos confirmavam o que viria a acontecer dias depois.
  • Desse mesmo lembro do nosso primeiro beijo, não lembro mais o gosto e nem a sensação, mas lembro da cena, dos detalhes, dos sorrisos, olhares e carinhos. Lembro que naquele momento, foi um dos instantes da minha vida que me senti no lugar mais seguro do mundo. 
  • Deste ainda me lembro do dia que ele passou de surpresa em minha casa, depois de um termino que durou quase um ano, pediu que eu o acompanhasse e disse que precisava muito conversar. Me pediu perdão e mais uma chance. Lembro do local que estávamos, seu olhar e a sensação de alívio que senti no dia, depois de um ano esperando esse momento. Em vão, naquela hora eu não sabia, mas nada mais seria igual. Havíamos nos perdido.
  • Ainda dele, não lembro da nossa primeira briga e nem de muitas outras que tivemos, mas lembro daquela vez em que desci da aula depois que brigamos. Ele me esperava sentado nas arquibancadas cabisbaixo para dizer que me amava e não poderia mais viver sem mim. Também me lembro claramente de uma outra briga, que em minha memória parece ser a última que tivemos, foi a que eu tive certeza que não dava mais. Me rendeu um trauma que carreguei durante muito tempo apesar dele praticamente ter ajoelhado aos meus pés pedindo desculpas pelo que havia feito.
  • De um outro lembro que de pé na escada da faculdade tinha aquele olhar de muito perto, me olhando com ar de veneração. Lembro-me do quanto me senti incomodada e invadida.
  • Do próximo o que mais lembro e claramente foi do dia em que me senti amada ao seu lado pela primeira vez. Ele me olhava de perto sereno e silencioso para cada detalhe do meu rosto, e terminou sua análise com um beijo na testa. Aquilo me fez sentir segura ao seu lado pela primeira vez.
  • Desse ainda me lembro também da decisão do fim definitivo. Ambos ao lado um do outro, no jardim da minha casa, encostados em seu carro. Eu olhando para o nada e ele me olhando, tentava me convencer a tentar mais uma vez e eu só conseguia pensar que precisava viver algo novo. Seu sorriso e suas palavras foram em vão, nada me convenceu. Parti.
  • De mais um lembro do banho de rio que tomamos juntos. Água gelada, vento calmo, raios de sol iluminando as águas, abraços, beijos e cuidado. Desse não guardo lembranças ruins, elas não existiram.
  • De outro lembro-me do nosso primeiro encontro na rodoviária, do abraço sem jeito, dele dançando uma mistura de salsa e forró para mim no quarto do hotel e do beijo na beira da praia sob os fogos da virada de um ano. Lembro-me do quanto me entreguei e da despedida fria e sem olhares. Recordo-me chorando em frente o computador depois das palavras duras, ditas de forma direta e sem cuidado. Anos depois ainda nos reencontramos, nele havia preservado um desejo abafado e uma vontade de recomeçar algo e em mim não restava nada mais. Palavras duras marcam.
  • O próximo fora meu maior pesadelo, por quem mais chorei, por quem mais sofri, me sentia destruída e cada vez mais a cada dia. Ele me mudou. A necessidade da convivência só tornava as coisas piores. Dele me recordo de algumas conversas que tivemos e do seu ar de se achar um homem maduro, ele se achava dono da verdade. Ele não era nada maduro, era tão jovem, mas muita coisa de mim ele realmente sabia. Sei que tivemos, mas deste não me recordo de nenhuma lembrança boa ao seu lado. Seu cheiro ainda me deu calafrios e me atormentou pelas ruas da cidade durante um bom tempo...
  • Entre ele e o próximo, tive alguns casos sem muita relevância. Onde tenho lembranças de beijos na beira da praia a luz do luar, na plateia do teatro após as luzes apagarem, no meio da rua, na sacada de um restaurante de beira de rio... 
  • O próximo me rendeu sorrisos, lágrimas, dúvidas, maturidade, mágoas, comédia, risadas, choros, amor, perdão, raivas, alegrias, cenas de ciúmes... Acho que dele é de quem guardo mais lembranças. Reencontros e despedidas em aeroportos e rodoviárias de 4 estados diferentes. Vida de geólogos. Não lembro do nosso primeiro beijo e nem porque exatamente começamos a namorar. Eu queria um namorado e ele queria diversão, mas ainda assim tentou namorar. Coitado, até que se esforçou, tentou mas aquilo não era para ele naquele momento. Me traiu e por muito pouco não fora também traído, inevitável. Dele lembro de cada reencontro, de fazer café a noite enquanto ele estudava, das crises de ciúmes que eu tinha, da paciência dele quanto a isso, de colocar meu pé frio na sua barriga embaixo dos lençóis, de irmos ao supermercado juntos, dele fazendo aquela posição de quem está meditando quando eu o irritava muito, de acordar ao seu lado, das risadas que dávamos juntos, das vezes que ele me levou café da manhã na cama, dele segurando minha mão pela primeira vez no meio da rua, e totalmente sem jeito ele dizia: "Aninha, nunca fiz isso por ninguém. Não estou acostumado a isso. Sou doidão."... Ele olhava para os lados como se alguém pudesse reconhece-lo 'pagando aquele mico' de andar de mãos dadas. São tantas lembranças, mas quando penso nele o que mais me recordo é de estar sentada na cama olhando o céu da capital federal durante as madrugadas em que estávamos juntos e me perguntando o que eu ainda estava fazendo ali. Jamais teríamos futuro.
  • Mais alguns casos sem muita relevância e quase nenhuma lembrança, até chegar no carinha do olhinho apertado e sorriso desconfiado. Muito mais novo que eu. Ele também me rendeu várias lembranças, lembranças estas já diversas vezes listadas aqui mesmo neste blog. Este me amou, a gente sabe quando é amada, mas ele nunca conseguiu assumir, acho que não o fez nem para ele mesmo. As vezes parecia triste ao meu lado, pensativo demais e só vim entender o porque quando uma distância maior que 2000 quilômetros nos separava. Era o que eu desconfiava. Ele ainda era só aquela criança que morria de medo de ser abandonado. Não vou falar de lembranças ruins. Das boas as que mais guardo é dele dormindo ao meu lado, dele me olhando e colocando meu rosto em seu ombro, do seu coração batendo forte, da gente na cama fazendo carinho nos pés um do outro enquanto assistíamos a novela que ele gostava, dele me fazendo cócegas até eu rir extremamente alto, da expressão no rosto dele quando soube que eu iria embora, a feição era triste e assustada mas a sensação em mim foi reconfortante. Esperança de que tivesse coragem de lutar por mim. Fui embora sem me despedir dele, brigamos, ele não acreditou que eu realmente iria ou acreditou e fugiu, não sei, odiava despedidas, seria abandonado uma vez mais. A vida me fez voltar lá mais uma vez, algo tinha ficado inacabado e então ficou guardado em mim a minha melhor lembrança, a nossa despedida.
De tudo que aconteceu algo permaneceu, fora criado pelo primeiro citado: "Feche sua mão sempre que quiser segurar a minha, toda noite antes de dormir, feche sua mão e a minha estará lá segurando a sua.".
A cada fim, a cada dor, a cada saudade, a cada desilusão, a cada solidão, eu fechava as mãos sonhando que alguma delas estivesse lá para segurar a minha. O que mais ficou de tudo é que até hoje eu fecho as mãos involuntariamente quando me sinto muito só, mas sei e com a maior das convicções que posso ter que não busco mais as mãos de nenhum deles. Ainda não sei quem segurará minha mão para nunca mais soltar.

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