quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Hoje eu comecei uma oração, mas não a terminei por completo. Minha irmã entrou em nosso quarto, avisou-me que iria ler um pouco e depois dormir. Apesar dela saber todos os meus atuais pensamentos preferi silenciar. Oração se faz só, eu precisava de intimidade e ela acabou no momento em que minha irmã bateu à porta.
Estava tentando falar diferente com Deus, queria lhe pedir algo especial, mas explicar o real sentido do meu pedido. Se ele inventar de realizar mesmo não vai poder dizer depois que era exatamente isso que meu coração queria, meu o real desejo que é outro. Minha razão pede algo que minha alma e meu coração dizem a todo instante que não querem, apenas compreendem o meu pedido, mas não o querem. Alma e coração se entendem e parecem não sentir medo do tempo, tempo este que se meu pedido realizar será ainda mais longo. Eu não quero meu pedido, eu quero outra coisa, mas meu pedido parece ser o mais sensato para o momento.
Me perguntei se ele estaria lá, faz tanto tempo que parece não me ouvir. Silêncios. Me pergunto se ele tem mesmo um plano. Silêncios machucam, e mais ainda em mim. Sou dessas que prefiro pancadas ao desprezo. Prefiro o sangrar ao nada sentir. Enfim, se ele não estivesse ao meu lado alguém poderia estar, dizem que os céus se aproximam quando a gente chama. Acho que por isso queria explicar, medo dele não estar lá e se alguém fosse dizer a ele o que eu queria, tinha que saber explicar também. De nada sei, estou apenas divagando em ilusões. No momento em que comecei minha oração haviam dois pedidos pulsando em meu ser, um de âmbito racional e outro emocional.
A algum tempo venho sentindo que a vida pede um pouco mais de mim. Sinto como se existisse um rio dentro de mim, meu corpo é apenas o leito. Águas passam. E agora elas correm com a força de uma correnteza veloz que tem capacidade de modificar o leito por onde percorrem. E isso está acontecendo, sou outra. A mudança não me incomoda, o que me incomoda é que essas águas parecem seguir um curso em círculos, caminhos aleatórios dentro de mim mesma. Não tem um único sentido. Nada corre para um mar. Não sei de quase nada, não entendo, estou perdida, estou confusa, estou com medo, mas de uma coisa sei, existe algo mais.
É como se tivéssemos um outro passado, outro presente e outro futuro fora do relógio atual que fomos acostumados a seguir. Um tempo marcado de forma diferente. Longo, mas apagado da memória dos que aqui voltam. Me sinto como se, em alguma ocasião, eu estive no roteiro de "Eternal Sunshine of the Spotless Mind" no momento em que Joel Barish começa a se arrepender da escolha de apagar lembranças e tenta desesperadamente preservar algo em sua memória para que daquele ponto ele possa ter um gancho e tentar recomeçar uma nova história com Clementine. É como se existe, em algum outro plano, aquela máquina do filme. E é como se eu tivesse preservado pequenos detalhes seus para que eu pudesse me apegar e conseguir segurar suas mãos uma vez mais aqui. Como se eu precisasse de você para caminhar segura e cumprir minha missão, mas aparentemente só eu fiz isso. E isso é triste.
Na minha mente o passado parece ser muito mais longo. O presente deixou de ser só o momento e passou a ser todo esse tempo em que aqui estou vivendo. E o futuro algo que será vivido fora dessa realidade. O estranho e incomum se instalaram nos meus dias e parecem não finalizar o seu papel. Me sinto incompleta e o que mas me assusta é saber que poderei continuar assim toda essa vida.
Nada parece renascer em você. Eu te admiro enquanto você dorme. E quando eu durmo você está em meus sonhos.
Hoje iria pedir a Deus para eu te esquecer, para essas sensações pararem, que essa minha busca por ti cesse. Minha razão pede isso em contraste com o que minha alma e coração necessitam. A única coisa que posso me segurar para acreditar que poderia acontecer da gente se conhecer, ocorrem apenas como pequenos instantes de certezas impossíveis que me invadem discretamente. Hora acho que conseguirei, hora recebo banhos de água fria. Isso é ruim. Essa procura sem reciprocidade me tem feito ficar mais angustiada. A angústia do não saber dói. Não deve ser assim.
Se preservei algo que não podia, talvez até desobedecendo a ordem natural dos acontecimentos, talvez seja preferível esquecer. Não é o que eu quero. Eu queria mesmo era que você lembrasse de mim como eu me lembro de você. Queria que você tivesse resgatado algo meu, mas aparentemente só eu fiz isso.
O que seria uma oração íntima acabou ficando exposto aqui ao extremo. Não sei porque, apenas escrevi, preciso colocar para fora, se Deus não estiver ao meu lado para escutar, talvez assim chegue lá. Escrevi para registrar aqui e ficar provado que minha alma e coração não querem te esquecer. Ainda que venha a acontecer.
Só queria me aproximar, poder entender, te conhecer, ter certeza que não é um mero estranho qualquer, criar laços. Queria o mínimo, mas nem isso estou conseguindo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário